quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O último Ponto de ônibus / part 1

  •         Era seu primeiro mês de trabalho,ainda sentindo insegurança e medo. Medo de perder a hora de seu ônibus,insegurança quando estranhos lhe olhavam,seus olhos sempre arregalados e atentos,suas pernas trêmulas de frio e só se ouvia seu alto fono de ouvido e o zumbido do vento gelado que batia em seus cabelos negros,escorridos aos ombros.
            Com o passar dos dias,a rotina foi tomando conta de sua vida,os mesmos passos,as mesmas músicas,o mesmo ponto,motorista e ela não sentia vontade alguma de observar o rosto das pessoas,pois elas nunca a olhavam como realmente queria ser olhava. Até que aconteceu o inesperado,ao olhar para trás desatentamente,pois seu ônibus parecia estar minutos atrasado,avista os pés de um rapaz e vagarosamente sobe teus olhos sobre aquele longo corpo e atravessa seus olhos aos dele,que atentamente olhava tão fundo que parecia enxergar a alma,lá dentro a observava,bem no fundo.
            Tímida,se vira em direção reta a fila e para. Ele também,só que traça o olhar para os lados como se nada tivesse acontecido. Ela então refletindo sentada ao banco quando chega em seu lugar :
    - Seus olhos tão misteriosos,seus lábios pequenos e rosados,nariz afilado,aquela barba mal feita,cavanhaque o que mais me atrai.Seu corpo longo e magro,movimentos leves que faz com os olhos de um lado pro outro,não para de observar a todos,coisa que eu nunca faria e depois de hoje o que eu não percebia,é que,lá atrás havia algo que se antes descoberto jamais perceberia o quanto me interessaria.Chega mente! Foi só uma troca de olhares comuns do dia-a-dia,não é nada de mais.
              E a imagem do rapaz tomava-lhe o sono por contínuas noites,antes de fechar teus olhos sempre aparecia aquele olhar tão perto que parecia estar repousado em cima dos teus.
            A cena se repetiu por vários dias e semanas,ele no fim da fila sempre atrasado e em pé,ela sempre adiantada,nervosa e preocupada em se atrasar,sempre sentada por tão cedo chegar. Apesar dos congestionamentos e passageiros transitando de lá pra cá,sempre arrumavam jeitos e pilastras a se esconderem para um ao outro de longe olhar,bem discreto,bem calado.
        O desejo oculto foi tomando conta do pensamento da iludida moça,sempre idealizando situações onde falaria e se aproximaria naquela fila do rapaz. A vergonha era tremenda,as vezes os olhos se esbarravam em tamanho espaço,se atropelavam olhando no mesmo momento,então abaixavam seus pescoços que na nuca batia o sopro gelado do vento e os dias apenas indo embora sem nenhuma ação diferente.
       Até que em uma noite cansada ela chega em casa, atormentada de cansado,fadiga,nostalgia,saudade do que ainda não pôde ter recebido,adormece com os mesmos pensamentos,acorda em meio à madrugada sem sono e apenas pensando nos olhos do rapaz,pensando em um dia ter aqueles braços laçados aos teus,aqueles em cima dos teus,teu nariz suspirando seu cheiro,um ao outro apenas o som do vento,das batidas do coração,dos suspiros de emoção. Assim ela dormiu,dormiu e sonhou com tal situação, imprevisível ou talvez impossível.
         O despertador tocava disparado pela terceira vez,e pela primeira vez ela estava atrasada. Se arrumou rapidamente e chegou ao ponto. Lá estava o rapaz que também se atrasava,à um passo de sua frente, suas pernas então tremiam como um vulcão em erupção,suas mãos estavam suadas,o frio na barriga a incomodava. Ele aparentava ter medo de olhar,mas constantemente de lado olhava,demonstrando estar preocupado com seu ônibus,mas na verdade queria mesmo era tentar tocá-la,não com as mãos,mas sim com os olhos,era a única forma dos dois se apreciarem.
         Então chega o tão esperado veículo e o menos esperado, quando sobiam,lá estavam apenas três lugares vagos,um banco só e dois juntos e vazios. Ela se assenta onde haviam dois, ele estica seu corpo em direção ao banco sozinho,mas pensou em questão de um segundo cortado a três pedaços,rapidamente se direciona ao lado da moça,ela percebia suas expressão tímida.
        Chovia,chovia e ventava. Todos fecham as janelas e tapam os ouvidos com seus chapéus,pois o barulho dos trovões assustavam. Cada um se vira para o canto,ele abraça a mochila e fecha os olhos. Ela inclina a cabeça ao chão,cruzando os dedos das mãos e observando o balançar dos pés nervosos do rapaz.
        Com o caminhar da estrada,com as curvas constantes,o esticar dos corpos,foram se achegando para perto e se aquecendo,era em tamanho aconchego,ela sente. Sem perceber seus corpos colados,seus ombros unidos e suas pernas quase enroscadas. E a dúvida batia.Será que sentes os mesmos calafrios e arrepios que passam em meu corpo ? Será que me olha profundamente como olho pra você ?
         Ela olhando da janela,avista o ponto em que ele desse se aproxima. Se ajeita delicadamente para perto de seus ombros largos,tentar esquentar mais um pouquinho,coisa que é rara acontecer o quanto ela esperava por tão pequeno gesto e acontecimento,tenta aproveitá-lo por últimos segundos antes que bata o sinal e dessa definitivamente de seu lado e só após 24 horas torne a senti-lo, ou como mais provável a olhar de longe e deseja-lo silenciosamente. E se achega,vagarosamente,de fininho a ultima aquecida em sua jaqueta quente,se esfrega lentamente ao seu lado,ele se espreguiçando e a olhando timidamente de lado. Levante-se e parece não querer partir. Dá o sinal, de pé com a bolsa pesada nas costas,olha pra trás meigamente e da um longo sorriso, que junto ao dela que o observa a descer o primeiro degrau. Ele saindo e mais uma vez olhando discreto,ela com os olhos brilhando decide interpretar o que os lábios calados,os olhos delicados dele diziam aos teus :
     - No fim,no meio da fila,no banco da frente ou de trás,adiantado ou atrasado,escondido e tímido ou espantado e amedrontado. Teus olhos se escondendo de mim,ou querendo me encontrar. Moça dos olhos de mel,amanhã voltarei no mesmo local,no mesmo horário atrasado e correndo.Às vezes a olharei de mais,outras a olharei de menos,só quando perceberes, se é que percebes meus constantes desejos calado.Não consegui ainda me aproximar por palavras,não pude vê-la e senti-la completamente,nem se quer a parte direita de seu corpo pude bem avistar,de tão tímida que és. Mas meus olhos fazem mais por mim,os teus também,a arte de se unirem e visitarem o coração e o interior da alma do outro é de incrível capacitação. Assim te tenho tão perto,mesmo de longe,assim a tenho dentro de mim e me tens dentro de ti.

    TO BE CONTINUED

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